Ministério da Cultura, Act. e Instituto Tomie Ohtake apresentam

Un Lento Venir Viniendo
Capítulo II
Colección Oxenford
Instituto Tomie Ohtake

Com curadoria do poeta e curador argentino Mariano Mayer, a mostra é composta por 71 obras de 48 artistas de uma das mais importantes coleções de arte contemporânea da Argentina, fundada pelo empresário Alec Oxenford. Este é o segundo capítulo de um projeto em três atos que teve início no MAC Niterói, entre 2022 e 2023, e seguirá para a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, entre 2024 e 2025.

05.09.2023 – 19.11.2023
De terça à domingo, das 11h às 20h
Entrada franca
Instituto Tomie Ohtake
Rua Coropé, 88

Un Lento Venir Viniendo

Mariano Mayer

Un lento venir viniendo exibe pela primeira vez no Brasil uma seleção das obras de arte contemporânea argentina reunidas pela Colección Oxenford desde 2008. Cada uma das três exposições que compõem Un lento venir viniendo foi ideada como se fosse um capítulo (I, II, III) dentro de uma novela em processo de elaboração. Ao todo, o projeto, cujo título corresponde a um verso do escritor argentino Macedonio Fernández, apresentará ao público brasileiro obras de mais de 80 artistas, cuja seleção não pretende retratar uma imagem representativa, integral e excludente, do todo da produção artística contemporânea argentina. Em vez disso, Un lento venir viniendo explora através de diversas perspectivas, e da elaboração de imagens parciais, uma forma de descobrir áreas significativas para a arte contemporânea argentina.

Cada um dos capítulos deste projeto reúne obras diferentes e visita um episódio cultural emblemático para a vida artística das cidades brasileiras nas quais acontecerão as exposições. Acontecimentos estéticos que não têm nenhuma vinculação histórica ou genealógica com as obras expostas, mas cuja riqueza essencial, especificamente os problemas que as motivaram, oferecem, a nível curatorial, um ponto de vista alternativo e impensado a partir do qual re-descobrir aspectos negligenciados da arte contemporânea argentina. Episódios geográfica e tematicamente deslocados que detonam novas leituras para uma cena que lhes é estranha e, por isso, possibilitam um percurso revelador da Colección Oxenford. No caso de São Paulo, o episódio estético destacado foi a linguagem artística desenvolvida por Hudinilson Jr. a partir do uso das fotocopiadoras e, portanto, a noção que tem servido de disparador desta mostra é a de “cópia”. Un lento venir viniendo. Capítulo II, não pretende ilustrar o que é a cópia para a arte, mas, ao contrário, é uma plataforma para que a arte contemporânea, através das obras selecionadas, nos estimule a pensar o que é a cópia, o que é a arte, quais seus pontos de contato, suas possibilidades e suas impossibilidades.

Um longo e complexo vínculo une a arte à cópia. Uma relação que, por sua essencialidade, muitas vezes nos parece inabarcável. Se trata de uma relação múltipla, habitada por inúmeros mal-entendidos. Sem ir mais longe, a própria palavra “cópia” desdobra seu sentido para referir-se tanto a um procedimento quanto ao objeto resultante desse procedimento. Em um sentido e no outro, a cópia constrói uma relação com a arte que é perfeitamente íntima e absolutamente alheia. Dizemos que é íntima cada vez que pensamos na cópia como sinônimo do ato de representar. A cópia, nesse caso, é a encarregada de gerir a relação da arte com o mundo. Dizemos que é alheia, por outro lado, quando pensamos na cópia seriada de objetos mercantis. Diante desse universo de objetos funcionais, idênticos uns aos outros, a arte se retrai para construir formas únicas e singulares. A arte e a cópia organizam um vínculo que se reproduz constantemente e que, ao deslocar-se, redefine seus sentidos. Em cada caso, reforça uma certeza que nenhuma cópia pode ocultar: a de ser um igual que nunca é igual.

“Quando eu era mais nova queria pintar como muitas pessoas”, disse Fernanda Laguna, “e assim ter os quadros que eu quisesse do mundo, pintando-os eu mesma”. Esta noção da cópia enquanto “contrabando”, de pirataria individual, que faz de um exercício de apropriação ao mesmo tempo uma forma de hierarquização e de tradução de formas e valores culturais, é compartilhada por algumas das obras que compõem o Capítulo II de Un lento venir viniendo. Lucas Di Pascuale, por exemplo, procurou em sua biblioteca imagens produzidas por artistas por ele admirados com o objetivo de realizar uma cópia manual delas para, assim, apreendê-las e construir uma coleção, feita à imagem e semelhança de seu desejo e de sua própria obra. Nicolás Martella e Manuel Fernández, por sua vez, ampliam e reimprimem as imagens fotocopiadas dos livros de arte através dos quais, durante seus estudos universitários, conheceram as obras canônicas da tradição artística ocidental. Penduradas na sala de exposição, essas cópias das cópias promovem, através de suas imperfeições, uma reflexão sobre o cânone, sobre a educação artística e, por fim, sobre o que vemos e deixamos de ver. Na obra de Juan José Cambre vemos a cópia mudar através de seu deslocamento entre meios e formatos. As pinturas encontradas na sala são a reprodução das páginas do livro onde Cambre compilou uma série de pinturas monocromáticas realizadas a partir de uma paleta de cores retirada da revista Artforum. Marcela Sinclair, por sua vez, aproxima-se do cânone da arte com sagacidade e senso de humor. No funcionamento e no título da obra, emula as esculturas polimórficas de Lygia Clark (Bichos), intervindo em um simples armário doméstico. A riqueza conceitual contida na homenagem faz da cópia um modelo de ação para a autoria coletiva, capaz de desajustar nosso olhar e enriquecer o mundo material que nos cerca. Pablo Suárez confere dignidade escultórica a um personagem da cultura do consumo. O Pibe Bazooka [O Moleque Bazooka] era o protagonista de uma breve história em quadrinhos que acompanhava os chicletes da marca mais consumida dos anos 1980. Extrapolado a uma escala natural e recoberto da cor rosa chiclete, Suárez transforma-o em uma careta irônica ao colocar em suas mãos uma revista pornográfica homossexual e ao substituir a bolha do chiclete por um preservativo. Dudu Quintanilha também explora os efeitos ambíguos que a arte produz quando seu objeto de representação é a vulnerabilidade, neste caso quando uma cena deformada de violência de rua se torna escultura. Capturada fotograficamente, encontramos uma situação que é produto da tensão e comunhão entre dois homens, onde a voz e o registro do artista se encontram com outro corpo, marginal, que se transforma em objeto, narração e motor coreográfico.

Quando a arte consegue combinar alquimicamente cópia e representação, os resultados vão além da condição mimética e alcançam produtos que se destacam por sua singularidade e invenção. Mariana López, por exemplo, utiliza materiais de pintura, pigmentos e telas, para construir réplicas coloridas de objetos cotidianos que podem substituir visual e espacialmente o objeto original representado. Dessa maneira, a representação pictórica torna-se uma apresentação, e a arte uma fábrica de trompe-l’oeil objetais e simulacros. As obras de Alfredo Dufour caracterizam-se por uma fidelidade representacional que se aproxima do código dos desenhos animados e da reprodução de objetos e personagens de uma cultura de massa ainda industrial. Assim, um chihuahua separado do mundo por uma focinheira, é e não é o animal de estimação nervoso e inofensivo que oferece companhia. As obras de Fernanda Laguna e Marcelo Pombo dão corpo a um programa estético, o da sala de exposições do Centro Cultural Ricardo Rojas, durante a década de 1990. A arte se coloca a serviço de decorar objetos cotidianos valendo-se de técnicas bastardas, como as da oficina de artesanato ou da loja de presentes. Um trabalho sobre o ornamento que procura fazer a arte comprometer-se novamente com a beleza. Por outro lado, Lucrecia Lionti recria uma lousa escolar utilizando a arte têxtil. Um mural macio que simbolicamente, através de sua relação metonímica com a educação, segue evocando uma memória tão emotiva quanto política. Uma cortina que entrega em sua superfície grafismos borrados com os quais exercitar uma arqueologia em devir, onde se conjugam o aparecimento e desaparecimento, a escrita e o apagamento de conhecimentos. Paula Castro, por sua vez, constrói formas a partir de uma matéria ou situação pré-existente. Nesse caso, encontra dentro de um objeto industrial uma forma única e identificável. Ela corrói uma simples cadeira de plástico até alcançar sua forma esquelética e, com ela, a expressão mínima, esquemática, essencial do objeto. Em alguns casos, porém, a representação pode somente alcançar a coisa representada a partir de uma reelaboração narrativa ou poética do objeto. Aqui, a cópia torna-se uma forma mutante. É o caso da obra de Fabián Marcaccio aqui exposta que, por meio de diferentes obras, tematizou o sequestro extorsivo dos irmãos Juan e Jorge Born, herdeiros do gigante empresarial Bunge e Born, em 1975. O que vemos nesta escultura-pintura, “paintant” segundo o artista, são os 61 milhões de dólares pagos pelo resgate. Um bloco de dólares no processo de se tornar outra coisa. As esculturas de Diego Bianchi também nos propõem formas mutantes, que reelaboram em uma chave antropomórfica os imaginários urbanos descobertos pelo artista em seus passeios por Buenos Aires. Obras que se nutrem das formas e dos materiais, dos detritos e dos modos que os sujeitos encontram de habitar a cidade.

Muito do que pensamos sobre o significado da cópia e quase tudo do que modernamente concebemos como arte é inimaginável sem considerar o desenvolvimento das técnicas de reprodução mecânicas da imagem e do som. Essa revolução simbólica é fruto da irrupção da fotografia e do vídeo, do rádio e da televisão, da música e da leitura como fenômenos de massa. Nesse sentido, a obra de Alberto Goldenstein nos situa no interior de um processo obsoleto, a cadeia de montagem envolvida na revelação fotográfica analógica. A composição que apresenta, feita de um conjunto de perspectivas urbanas, nada mais é do que a ampliação da folha de contato de um filme que o artista fotografou há quarenta anos durante sua formação nos Estados Unidos. Estefanía Landesmann, por sua faz uso da cópia offset para transformar a fotografia em um volume escultórico. Dentro do prisma composto pela sobreposição de folhas, que reproduz a imagem evanescente de uma janela, reside uma questão de caráter ontológico: onde está a essência da imagem fotográfica? Cecilia Szalkowicz e Gastón Pérsico abordam uma revista de estilo de vida e consumo dos anos 1970. A dupla de artistas reedita um exemplar da revista Bazar, escolhendo apenas algumas imagens e textos que deixam flutuantes nas páginas em branco. Uma estratégia de ready-made que ressignifica o conteúdo da publicação e possibilita novas significações. Um efeito semelhante é gerado pela obra de Guillermo Kuitca, ao trabalhar sobre um dos sistemas de representação espacial fundamentais. A partir da convergência de diferentes mapas, o pintor compõe uma paisagem imaginária. Um novelo de fronteiras e acidentes geográficos que gera estranhamento, onde o reconhecível é a oportunidade de perda e, com isso, para a construção de novos territórios e de narrativas para habitá-los.

Pode-se copiar o indescritível, o invisível, o inefável? A possível afirmação desestabiliza os padrões de reconhecimento e possibilita uma atenção íntima. Estes objetos artísticos parecem não estar a serviço da comunicação dialética, dado que a experiência proporcionada pela obra será fruto de uma introspecção que se aventure na ausência de forma. Mirtha Dermisache, por exemplo, construiu por quase meio século uma obra centrada na produção de uma escrita ilegível. Ela tornou visível a impossibilidade subjacente a toda mensagem escrita, a forma da incomunicabilidade. As referências e os significados se desintegram em sua escrita assêmica e suas formas são tanto grafia quanto mímica de uma carta, de um livro ou de um tabloide. Ricardo Carreira, por sua vez, abordou a linguagem, tanto como discurso quanto forma, como matéria de experimentação. Ao escrever fazendo uso do procedimento que chamou de “desabituação”, cada poema desfaz as partículas do texto e a partir da repetição, e dos efeitos multiplicadores da iteração, rearticula o sentido e sobrepõe novos elementos a cenários reconhecíveis. Apesar de sua aparência abstrata, os papéis e esculturas de Jimena Croceri não abandonam o registro representativo e, na verdade, atingem os próprios limites da representação. Suas obras buscam capturar as formas da matéria naturalmente produzidas pelo meio a que está exposta. Neste caso, o que vemos é o desenho realizado pelo fluxo da corrente costeira sobre uma folha de papel. A obra resultante é uma cópia em sentido pleno, um registro do contato entre a água e o papel, uma nova apresentação daquela forma que a natureza cria por conta própria. Já na obra de Martín Legón, poesia e burocracia se unem em uma instalação que tematiza uma situação constitutiva de todo sujeito: a impossibilidade de nos apropriarmos de nossa experiência de mundo. Prateleiras e caixas de papelão, algumas cheias de objetos banais e outras vazias, são a imagem de um monumento funerário, aquele que simboliza nossa existência fenomenológica.

A cópia como irreverência, como autoria coletiva, como palimpsesto, mas também como transporte e confluência de linguagens, aparece em cada uma das 71 obras presentes nesta exposição. Hudinilson Jr. dizia que a fotocopiadora era “uma máquina de fazer cópias mutantes”. Os componentes deste Un lento venir viniendo. Capítulo II parecem explorar esse significado e descobrem instabilidades entre formas e significados.

Lista de artistas

Josefina Alen
Sergio Avello e Daniel Joglar
Batato Barea
Diego Bianchi
Erica Bohm
Juan José Cambre
Ricardo Carreira
Paula Castro
Jimena Croceri
Beto de Volder
Claudia Del Río
Mirtha Dermisache
Lucas Di Pascuale
Alfredo Dufour
Gabriela Forcadell
Alberto Goldenstein
Hoco Huoc
Guillermo Kuitca
Fernanda Laguna
David Lamelas
Estefania Landesmann
Martín Legón
Lux Lindner
Lucrecia Lionti
Mariana López
Fabián Marcaccio
Nicolás Martella
e Emanuel Fernández 
Miguel Mitlag
Alejandro Montaldo
Ariel Mora
Eduardo Navarro
Andrea Ostera
Máximo Pedraza
Marcelo Pombo
Ramiro Quesada Pons
Dudu Quintanilha
Marisa Rubio
Mariela Scafati
Rosana Schoijett
Alan Martín Segal
Marcela Sinclair
Pablo Suárez
Cecilia Szalkowicz
e Gastón Pérsico
Florencia Vecino
Santiago Villanueva

LEI DE INCENTIVO À CULTURA

PATROCÍNIO
Globant

Mercado Livre

REALIZAÇÃO E COORDENAÇÃO

Instituto Tomie Ohtake 

Act.

IDEALIZAÇÃO

João Paulo Siqueira Lopes

DIREÇÃO

Fernando Ticoulat

COORDENAÇÃO

Marina Dias Teixeira

PRODUÇÃO EXECUTIVA

Sofia Gravina

COMUNICAÇÃO

Yasmin Abdalla

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO

Helena Kimie Gimenes

CURADORIA

Mariano Mayer

ASSISTÊNCIA CURATORIAL

Renato Mauricio Fumero

 

COLECCIÓN OXENFORD

Erica Bohm, Coordenação

CENOTÉCNICO

Quilombo

ILUMINAÇÃO

Ambar

MONTAGEM

Projeta

TRANSPORTE

Immensum

Delmiro Mendez E. Hijo

MUSEOLOGIA

Conservare

TRADUÇÃO

Catalina Bergues

Patricia Davanzzo

ASSESSORIA DE IMPRENSA

Pool de Comunicação

ASSESSORIA JURÍDICA

Oksman Advocacia

SINALIZAÇÃO

Camera Press

MATERIAL GRÁFICO

Cinelândia

 

INSTITUTO TOMIE OHTAKE

 

Presidente Estatutário

Ricardo Ohtake

 

Conselho Deliberativo

Antonio Meyer

Aurea Vieira

Fernando Morais

Fernando Shimidt

João Vieira da Costa

Roberto Miranda de Lima

Walter Appel

 

Conselho Fiscal

Miguel Gutierrez

Patricia Verderesi

Sérgio Miyazaki

 

Associados

Antonio Meyer

Aurea Vieira

Fernando Morais

Fernando Shimidt

Flavia Almeida

Jandaraci Araujo

João Vieira da Costa

Marlui Miranda

Renata Motta

Roberto Miranda de Lima

Tito Enrique da Silva Neto

Walter Appel

 

Núcleo de Pesquisa e Curadoria

Paulo Miyada, Curador-chefe

 

Núcleo de Cultura e Participação

Carol Tonetti, Diretora

 

Núcleo de Produção de Exposições e Projetos

Vitoria Arruda, Diretora

 

Administração e Desenvolvimento Institucional

Gabriela Moulin, Diretora

 

Design gráfico

Vitor Cesar

Felipe Carnevalli de Brot

 

Expografia

Lucas Fabrizzio